A gravidez de um pai
A gravidez de
um pai não se dá nas entranhas, mas
fora delas.
Um desejo de ser e de se ver prolongado em outra
vida, que seja parte de si mesmo,
mas com vida própria. Imagino que deve ser
frustrante a princípio.
Durante toda a espera, um pai é um pai sem
experimentar o gosto de ser,
sem os inconvenientes de uma gravidez, mas também
sem as lindas emoções que tanto mechem com a gente.
E quando ele sente pela primeira vez a vida que
ajudou a gerar, tudo toma outra forma.
Ele sente um chute e se diz já que este será um
grande jogador de futebol.
E muitas vezes se surpreende e se maravilha quando
vê uma princesinha que sabe chutar tão bem.
Mas tanto faz. Está ali um sonho que se torna
palpável.
E um parto de um pai se dá quando ele pega pela
primeira vez sua criança nos braços,
quando ele se vê em características naquele
serzinho tão miudinho que nem se dá conta
ainda que veio ao mundo e que se tornou o mundo de
alguém. E os sentimentos e emoções
se atropelam dentro dele. E ele sente que, à
partir desse instante, a vida nunca mais será a mesma.
E ele precisa olhar dez, cem, mil vezes para
acreditar que tudo não passa de um sonho.
E geralmente há um enorme sentimento de orgulho
que toma posse dele.
Assim se forma um pai. Pronto para ensinar tudo o
que aprendeu da vida,
um dia ele descobre que não sabe realmente muito,
que na verdade aprende a cada instante.
Diante da sua criança ele se torna um adulto vulnerável
e acessível.
E vai gerando, pouquinho a pouquinho, dentro de si
mesmo, a arte de se tornar um pai.
(Autora: Letícia Thompson)

Nenhum comentário:
Postar um comentário